A Arte Milenar Das Pipas Na China: Uma Tradição De Primavera Que Encanta Gerações

A construção e o voo de pipas tiveram origem na China, onde ganharam popularidade e, ao longo dos séculos, se espalharam pelo mundo. Esta arte ancestral é considerada a mais antiga “aeronave” da humanidade.

Na China, a pipa é chamada de zhiyuan (que significa "águia de papel"), uma referência ao fato de que as pipas eram feitas de papel e, ao voarem, lembravam águias no céu. Originalmente, as pipas tinham usos militares, como medição e sinalização. Com o tempo, a atividade se tornou recreativa, e pipas de bambu eram equipadas com apitos que, ao vento, produziam sons semelhantes ao guzheng (cítara chinesa). Esse efeito musical deu origem ao nome moderno de fengzheng, onde feng significa vento e zheng faz referência ao instrumento musical.

Difusão cultural e internacionalização

No século VII, as pipas chegaram a países vizinhos, como Coreia e Japão. Mais tarde, no século XIII, o explorador Marco Polo as introduziu na Europa, de onde se difundiram para países árabes, América e Austrália, tornando-se uma expressão cultural universal.

A filosofia chinesa e a harmonia com a natureza

As pipas tradicionais chinesas são feitas de materiais simples, como seda, bambu e papel, mas a construção exige habilidades apuradas para que a pipa seja bonita e voe bem. Para os chineses, construir e empinar pipas reflete a harmonia entre o ser humano e a natureza, um princípio fundamental na filosofia chinesa.

Empinar pipas na primavera é uma atividade especialmente apreciada na China, simbolizando renovação e crescimento após o longo inverno. No Festival Qingming, que ocorre no início de abril, milhares de pipas enfeitam os céus, com desenhos de borboletas, águias e dragões, proporcionando uma sensação de integração com a natureza.

Técnicas e características das pipas chinesas

A construção de pipas chinesas envolve técnicas detalhadas para garantir simetria e equilíbrio durante o voo. Elas têm tirantes centrais, com uma combinação de materiais rígidos e flexíveis, o que permite estabilidade frente a mudanças de vento.

Inspiradas pela Doutrina do Meio confucionista, as pipas chinesas representam um equilíbrio: para que a pipa voe bem, a linha não deve estar nem muito tensa nem muito solta. Esse equilíbrio reflete-se nas artes da vida cotidiana, uma visão de paz e harmonia.

Os desenhos das pipas variam, mas muitos imitam animais como dragões, fênix, borboletas e gaivotas. Algumas pipas possuem nomes de familiares inscritos; ao soltá-las ao vento, as pessoas acreditam que os problemas e doenças do inverno são deixados para trás.

Pipas regionais da China: Weifang, Pequim e Nantong

1. Weifang: Conhecida como a "cidade das pipas", Weifang, na Província de Shandong, tem uma longa história de construção de pipas, desde o período dos Estados Combatentes (475-221 a.C.). Mestres artesãos criaram pipas elegantes e de fácil manejo. Os festivais de pipas em Weifang atraem entusiastas e tornam a cidade um importante polo cultural da arte das pipas, com modelos que são verdadeiras obras de arte.

2. Pequim: Caracterizadas pela forma de gaivota, as pipas de Pequim foram aprimoradas por Cao Xueqin, autor de O Sonho do Pavilhão Vermelho, que criou pipas capazes de suportar os ventos da cidade. Ele deu personalidade às pipas de gaivota, representando grupos sociais e criando figuras que "dançam" no céu.

3. Nantong: Conhecidas pelo efeito musical, as pipas de Nantong, no sul da China, produzem sons com apitos de diversos materiais. Com tamanhos variados e formas grandes e planas, essas pipas criam uma harmonia sonora ao vento. A construção envolve técnicas artesanais avançadas, como estamparia e bordado, combinando ciência e arte.

Essas três regiões mantêm vivas as tradições das pipas chinesas e seu valor cultural. Em 2006, as pipas de Weifang e Nantong foram incluídas na lista do patrimônio cultural imaterial da China, e as de Pequim seguiram o mesmo caminho em 2011.

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